sábado, 27 de outubro de 2012

O pedido!

Sempre sonhei em casar! Quando o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi legalizado percebi que esse desejo estava mais perto de ser realizado. Mas eu sou careta e não gosto de pular etapas. Então decidi que teríamos que ficar noivas e fui planejando tudo sem segredo!

E foi lindo.
Lindo, lindo, lindo.
Exatamente da forma que eu planejei.
O mais difícil do noivado, foi conseguir guardar segredo.

Quando decidi pelo pedido, fiquei programando cada detalhe. Queria coisas que tivessem significado, que lembrassem um pouco da nossa história.
Como escolher o lugar? Já passamos por vários com significados importantes. Então lembrei do Solar do Unhão. Um lugar lindo, com um encanto próprio e que por muitas vezes nos acolheu.
Não conseguiria fazer na parte aberta, então resolvi que seria no Solar Café. Já estivemos por lá diversas vezes e sempre foi mágico.
Lembro do dia desta foto, por exemplo. Dia de semana, trabalho corrido, mas nós acertamos os ponteiros do relógio e fomos brindar.
Depois de escolhido o lugar fiquei pensando o que fazer para tornar o momento inesquecível.
 Fiz uma listinha de pessoas que não poderiam faltar e fui, aos poucos, acrescentando detalhes.
Convidei um amigo para tocar flauta! Com a emoção do momento ela nem prestou atenção...  Queria que ao chegar, a nossa música estivesse no ambiente. E isso aconteceu.
A nossa música, a música que faz parte da nossa vida, da nossa história e que nos faz chorar todas as vezes que ouvimos.


" Eu preciso de você porque tudo que eu pensei
Que pudesse desfrutar da vida sem você não sei
Meu amanhecer é lindo se você comigo está
Tudo é mais bonito no sorriso que voce me dá"

O momento foi sendo "desenhado" em minha imaginação e aos poucos e sozinha fiquei pensando o que não poderia ficar de fora... Foi então que lembrei dos lírios. lírio é o nome dado às flores do gênero Lilium L. da família Liliaceae. Mas para nós é conhecida como a flor de Santo Antônio e também faz parte da nossa história. 

Mas como entregar as flores? O que dizer na hora?

Acho que estava imaginando que engasgaria na hora e então resolvi incluir os amigos presentes na entrega das flores. Escolhi O Amor, de Carlos Drummon, dividi em partes e distribui entre os amigos. Planejei, combinei mil vezes com todos, mandei e.mail com as partes e pronto. Isso estava resolvido.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor.  Carlos Drummond

Depois de tudo pensando, repensando e esquematizado. Chegou o grande dia! Como tudo estava sendo feito em segredo, precisava arranjar um bom motivo para convencer que deveríamos ir ao Solar Café, domingo a noite. Levando em consideração que no dia seguinte tínhamos que acordar super cedo, fiquei morrendo de medo dela bater pé firme e negar a saída! Porque mulher é um bicho complicado.

Mas ela topou! :-)

Sou naturalmente uma pessoa tensa, preocupada, estressada... Não quero que as coisas saiam diferente do que pensei, não gosto de atrasos... É, sou uma pessoa chata.
Lembro que fiquei extremamente tensa no caminho até o Solar Café. Com medo dela descobrir tudo, das pessoas não aparecerem, dos lírios estarem feios... Fiquei preocupada com absolutamente tudo.
Quando já estávamos chegando, lembro que meu celular tocou e ela perguntou quem era, o que queria... Putz! Foi por pouco...
A partir da chegada, tudo foi mágico. Acho que poucas vezes eu tremi tanto.
Logo que chegamos ela já questionou se estávamos no local certo. Não estava vendo estrutura de festa - o tal evento que criei - e insistiu para que eu perguntasse ao segurança se o evento era mesmo ali.

Ainda assim seguimos em frente!

Ela ficou olhando para todos os lados, tentando encontrar algum sinal de festa. A medida que andávamos eu ficava mais nervosa.
Quando viramos em direção ao espaço reservado, imediatamente identifiquei os amigos e aos poucos tudo foi acontecendo...
A flauta tocava nossa música enquanto as pessoas iam formando uma fila, cada uma com pedaços de papel em uma mão, com a poesia de Carlos Drummond, enquanto na outra seguravam os lírios.
Ela só chorava. Chorava e perguntava o que estava acontecendo. Eu quase desmaiando fiquei o tempo todo ao lado dela.

Os trechos da poesia eram recitados e os lírios entregues, formando um bouquet na mão da futura noiva.

A cada frase dita pelos amigos, eu percebia o carinho explícito em cada rosto, em cada gesto de carinho...
Em meio aos jovens amigos, estava minha tia. A única senhora  convidada. De uma geração diferente da minha, ela estava ali de coração puro, com um sorriso de quem entende que para o amor não existem regras.

E quando tudo já tinha acontecido e todos estavam parados, emocionados com o momento, ela diz:

- E então, vai fazer o pedido ou não?

Quase engasgada fiz o pedido e a noiva aceitou.
Naquele instante consegui sentir que começávamos a viver um novo momento.
É isso. Vamos casar!

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